Há muito já se sabe que nem só de pão vive o homem. Mas o confinamento provocado pelo surto do novo coronavírus está deixando claro, para quem ainda tinha alguma dúvida, que o pão, por sua vez, não é alimento apenas para — vá lá — a carne. É verdade que o advento da quarentena tornou a ida até a padaria para comprar essa indispensável iguaria do café da manhã um ato que requer cuidados redobrados; às vezes até mesmo desaconselhável. No entanto, será que só isso sustentaria um fenômeno extraordinário que vem ocorrendo nestes tempos de pandemia, qual seja a explosão, em toda parte, de uma legião de, digamos desse modo, “novos padeiros” — um sem-número de pessoas que decidiram, literalmente, pôr a mão na massa para produzir o seu pão de cada dia?
Com apenas um dado é possível ter a dimensão exata do que está acontecendo: nos últimos meses, a busca na internet por alguma receita caseira de panificação cresceu inacreditáveis 300%. E muito do resultado disso se espalha, a toda hora, nas redes sociais e aplicativos, em fotos, lives e videochamadas deliciosas — sim, o interesse saltou do mundo virtual e ganhou forma, cheiro e sabor em incontáveis residências. Aguçou os paladares e saciou os apetites, claro, porém com um recheio a mais. Fazer pão se tornou uma atividade que tem ajudado muita gente a atravessar com mais leveza o período de isolamento entre quatro paredes, que não se sabe quando terminará. Uma distração prazerosa, um passatempo que ainda traz consigo a oportunidade de cultivar uma dieta saudável.